“Casablanca” (1942)
O roteiro foi escrito por Julius J. Epstein, Philip G. Epstein e Howard Koch. Há relatos de que os roteiristas trabalhavam com mudanças quase diárias, o que tornou a produção caótica — especialmente para os atores, que muitas vezes não sabiam como a história terminaria. Ingrid Bergman, por exemplo, dizia que não sabia com qual dos dois homens sua personagem acabaria até os momentos finais das filmagens.
Enredo
O filme se passa em Casablanca, uma cidade marroquina que serve de refúgio temporário para pessoas que fogem da Europa dominada pelos nazistas. No centro da história está Rick Blaine (Humphrey Bogart), um americano cínico e dono de um café noturno chamado “Rick’s Café Américain”. Embora se apresente como neutro e apolítico, Rick guarda um passado misterioso, e sua fachada indiferente logo começa a rachar com a chegada inesperada de Ilsa Lund (Ingrid Bergman), seu antigo amor de Paris, agora casada com o herói da resistência tcheca Victor Laszlo (Paul Henreid).
Ilsa e Victor precisam fugir para os Estados Unidos, mas só conseguirão se obterem dois salvoconduzidos, que por acaso estão nas mãos de Rick. O dilema moral é inevitável: ajudar o casal e perder a mulher que ama ou manter-se fiel aos próprios sentimentos e ao seu passado magoado. Em meio à tensão política e ao clima de guerra, o drama se intensifica até culminar num dos finais mais emblemáticos da história do cinema.
Personagens e interpretações
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Rick Blaine (Humphrey Bogart): Dono de bar com passado idealista, agora amargurado e cínico. A atuação de Bogart marcou a transição do ator de papéis mais duros e criminosos para o protagonista romântico com profundidade moral.
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Ilsa Lund (Ingrid Bergman): Uma mulher dividida entre o amor por Rick e a lealdade ao marido, Victor. A performance de Bergman é delicada e cheia de nuances, contribuindo para o tom melancólico do filme.
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Victor Laszlo (Paul Henreid): Líder da resistência, símbolo do heroísmo e da luta contra o nazismo. É o homem que representa o bem maior, mesmo que isso custe a felicidade pessoal de todos os envolvidos.
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Capitão Renault (Claude Rains): O corrupto, mas carismático chefe da polícia local, que ao longo do filme vai revelando sua verdadeira postura diante da guerra.
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Major Strasser (Conrad Veidt): O vilão nazista do filme, que tenta impedir a fuga de Laszlo e representa o perigo real da opressão totalitária.
Frases icônicas
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“Here’s looking at you, kid.”
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“Of all the gin joints, in all the towns, in all the world, she walks into mine.”
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“We’ll always have Paris.”
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“Louis, I think this is the beginning of a beautiful friendship.”
Curiosamente, algumas frases amplamente associadas ao filme, como “Play it again, Sam”, nunca são ditas exatamente dessa forma.
Trilha sonora e atmosfera
A música tema do filme, “As Time Goes By”, interpretada no piano por Sam (Dooley Wilson), é um elemento emocional crucial. A canção serve como elo entre passado e presente, simbolizando o amor perdido e a passagem do tempo. Sua melodia melancólica ecoa durante os momentos mais intensos do filme.
O uso de luz e sombra — típico do estilo noir — acentua a dualidade dos personagens e a tensão dramática. A direção de arte e a cinematografia criam uma Casablanca com atmosfera exótica, misteriosa e sufocante, como uma prisão elegante para os que ali estão presos pelas circunstâncias.
Recepção e legado
Hoje, é amplamente considerado um dos maiores filmes de todos os tempos. Foi selecionado para preservação no National Film Registry dos EUA por seu valor cultural, histórico e estético. Aparece frequentemente em listas como “100 Melhores Filmes da História” e continua sendo objeto de estudo por sua estrutura narrativa, diálogos, personagens e relevância política.
Além disso, influenciou gerações de cineastas e foi referenciado em inúmeras obras posteriores, desde comédias até homenagens diretas, como no filme “Casamento em Casablanca” (Havana) ou no desenho Looney Tunes.
Por que ainda importa
Casablanca permanece atual não só por sua maestria cinematográfica, mas porque toca em temas universais: amor, sacrifício, dilemas morais, guerra e resistência. A história de um homem que decide fazer o certo, mesmo que isso signifique perder o que mais ama, é uma narrativa atemporal — e profundamente humana.
O diretor
Michael Curtiz foi um dos diretores mais prolíficos e influentes da Era de Ouro de Hollywood, conhecido principalmente por dirigir o clássico Casablanca (1942). Mas sua carreira vai muito além disso. Aqui vai um panorama sobre ele:
🎬 Quem foi Michael Curtiz?
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Nome de nascimento: Manó Kertész Kaminer
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Nascimento: 24 de dezembro de 1886, Budapeste, Império Austro-Húngaro (hoje Hungria)
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Falecimento: 10 de abril de 1962, Hollywood, Califórnia, EUA
Curtiz começou sua carreira no cinema mudo europeu e, depois de dirigir mais de 60 filmes na Europa, mudou-se para os Estados Unidos em 1926, onde foi contratado pela Warner Bros.
🏆 Destaques da carreira
Alguns de seus filmes mais notáveis incluem:
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Casablanca (1942) — Ganhou o Oscar de Melhor Diretor
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The Adventures of Robin Hood (1938) — Com Errol Flynn
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Angels with Dirty Faces (1938) — Com James Cagney
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White Christmas (1954) — Um dos musicais de Natal mais populares
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Mildred Pierce (1945) — Um noir com Joan Crawford, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz
🎥 Estilo e técnica
Curtiz era conhecido por seu domínio técnico e habilidade visual. Utilizava composições de cena sofisticadas, iluminação expressiva e movimentos de câmera elegantes. Seu estilo podia ser grandioso ou intimista, dependendo da história.
Ele também era famoso por ser exigente no set — às vezes até autoritário — mas extremamente eficaz. Tinha um sotaque húngaro carregado e ficou famoso por suas falas confusas, como dizer “bring on the empty horses” (em vez de “bring in the horses without riders”), que virou o título de um livro sobre o cinema clássico.
🎭 Legado de Casablanca (1942)
Apesar de ter sido um dos diretores mais bem-sucedidos de seu tempo, Curtiz nem sempre é lembrado com o mesmo destaque que nomes como Alfred Hitchcock, Orson Welles ou John Ford. Isso se deve, em parte, ao fato de que ele era um diretor de estúdio — muitas vezes designado para projetos que não escolhia, mas sempre os elevava com sua maestria técnica.
Hoje, ele é cada vez mais reconhecido por sua versatilidade, sua influência na linguagem visual do cinema clássico e, claro, por ter dado vida a uma das obras mais amadas da história do cinema: Casablanca.